Sempre quis trocar cartas de amor, mas as poucas vezes que
ousei mandá-las não tive muito sucesso... Na primeira vez, nunca recebi
respostas. Anos mais tarde fiquei sabendo que ele nem percebeu que eram cartas
de amor. Acho que eu não soube me expressar muito bem. Na segunda, recebi apenas uma foto com
dedicatória atrás, não era bem isso que eu esperava, mas mesmo assim
representou muito para mim. Naquele tempo eu nem imaginava que um dia estaria
aqui, sentada em frente a um computador, escrevendo sobre este assunto em um
blog. Aliás, tudo isso foi bem antes da
internet chegar ao Brasil!
Bons tempos aqueles, quando os Correios ainda eram o
principal meio de trocar correspondências. Demorava, mas funcionava.
As pessoas ficavam felizes quando no meio das contas chegava
um envelope escrito à mão e com um selo homenageando algum fato histórico. Era
sempre uma surpresa agradável receber uma carta, principalmente antes de rasgar
o envelope e ler o seu conteúdo, que, além de chegar desatualizado, nem sempre
trazia boas notícias... Mas, mesmo assim, era costume guardá-las. Todo mundo
tinha uma caixa de sapato ou uma gaveta no criado mudo para arquivar as cartas.
Escrever uma carta era um verdadeiro ritual, principalmente
se fosse uma carta de amor. A escolha do papel, a cor do envelope, escrever o
rascunho, revisar o texto, escolher a caneta que facilitasse a escrita, passar
a limpo, caprichar na letra e até a escolha de um perfume para borrifar na
carta para que ela chegasse cheirosa ao destinatário. Depois, ir à agência dos
Correios, encaminhar a carta e esperar... Esperar que ela chegasse dias depois
ao seu destino e torcer para que ela fosse respondida. E novamente esperar até
o carteiro apertar a campainha e finalmente receber a resposta. Todo este
processo fortalecia a relação e potencializava o sentimento.
Com o passar dos anos e a chegada da internet muita coisa
mudou. As redes sociais facilitaram a reaproximação de muitas pessoas e a
continuidade de casos perdidos no passado. Assim, tive a oportunidade de
recomeçar uma daquelas histórias que contei no início do post. Mas, como ele
não costumava responder e-mails percebi que o problema não era bem o meio de
comunicação...
Hoje em dia tudo é mais fácil, basta deixar um recado no
Facebook ou conversar pelo Whatsapp, tudo muito simples e rápido. Ninguém
precisa esperar muito tempo para saber a resposta. E quando ela não chega
sabemos que foi proposital, pois temos a confirmação de que foi lida. Não há
mais desculpas da demora devido às greves dos Correios, porque a carta foi
extraviada, o cachorro rasgou as correspondências ou porque a chuva molhou a
casinha de cartas... Hoje sabemos de tudo, ninguém mais se engana, só quando
quer fingir que não entendeu, para doer menos. As caixas postais e os históricos
das conversas normalmente são apagados para liberar espaço na memória, seja ela
do computador, do celular ou do nosso cérebro mesmo.
A tecnologia facilitou tudo e tirou o véu das nossas caras,
tornando tudo efêmero.
A comunicação ficou mais fácil. Mas, infelizmente, por
alguma razão que eu desconheço, essa facilidade nem sempre é sinônimo de eficiência, pois muitas vezes
não é o suficiente para fortalecer as
relações, pelo menos as amorosas. Acho que a rapidez das informações
interferiram na duração dos relacionamentos. Afinal, tudo que vem fácil vai
fácil, não é assim que diz o ditado? Acredito que o mesmo aconteceu com as
correspondências... Como as pessoas costumam ficar 24h online sabemos que a
qualquer hora podemos chamá-las que elas responderão logo em seguida. Porém, muitas
vezes, na correria do dia a dia, acabamos por adiar este chamado, deixando para
depois aquilo que deveríamos dizer no momento em que estamos sentindo.
O que eu não entendo é por que o homem estuda e trabalha
tanto para facilitar a nossa vida e aprimorar os meios de comunicação? Se, o
que me parece é que, quanto maior é o avanço tecnológico maiores se tornam as
distâncias entre as pessoas, mais sutis e frias se tornam as relações e menos
tempo temos para dedicar aqueles que amamos...
O relacionamento afetivo precisa de atenção, de carinho, de
tempo e dedicação. Precisa também de fatos que marquem os momentos e deixem
histórias para relembrar e contar. E não é deletando arquivos que deixaremos
registros das nossas experiências. Para isso, mesmo parecendo piegas e fora de
moda, nada melhor que escrever bilhetinhos, cartões e cartas de amor. O
romantismo não pode sair de moda!
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