domingo, 25 de março de 2018

O outro lado


Quando escolhi me especializar na área de RH não imaginava como seria difícil colocar em  prática tudo o que aprendi com os mestres... Acreditava que teria uma função estratégica e não seria apenas uma cumpridora de ordens e regras, que até então eu desconhecia... 

Com o tempo aprendi que cada empresa tem suas próprias leis, que você aceita e se adapta a elas ou você está fora... 

Chegou uma hora que eu cansei de mudar de emprego cada vez que não concordava com essas regras, porque entendi que não posso mudar o mundo sozinha e que preciso trabalhar e receber o meu salário no fim de cada mês, como todo trabalhador. Apesar de nem sempre ser vista como tal perante os demais funcionários, pela chefia e pelo Sindicato, porque todos nos cobram, mas ninguém nos defende... Quem vê de fora pensa que a gente decide alguma coisa, na verdade, a gente apenas executa a vontade dos mais fortes, que nem sempre são os funcionários...

Trocando experiência com outros profissionais da área eu entendi que não posso generalizar, mas que certos problemas não mudam de uma empresa para outra, apenas algumas políticas de trabalho e cultura organizacional. Acredito que cada pessoa tem sua missão na vida e que cada profissional um caminho a seguir... E que, muitas vezes, eles são bem diferentes. Ainda bem, né? Ou não estaria aqui escrevendo sobre este assunto e já teria desistido de tudo.

Desde o meu primeiro contato com as atividades de RH eu sempre procurei fazer o melhor pelo funcionário, inclusive argumentando com os gestores uma maneira de beneficiá-los, sem prejudicar a empresa, é claro. Acredito que profissional valorizado trabalha mais feliz, falta menos e produz mais e melhor. A empresa sempre ganha com funcionários satisfeitos. Pena que nem todos os empresários entendem isso. Mas também sei que, para a empresa, a maioria das decisões precisam ser baseadas em números... E que na eterna guerra entre a razão e a emoção, a primeira deve ser a vitoriosa. É nessa hora que o meu lado de Humanas é mais forte. E que sofro mais também.

Adoro contratações, ver o quadro de funcionários aumentando, os colaboradores sendo treinados, promovidos, crescendo  com a empresa. Mas detesto as demissões, principalmente em massa, concordo que uma e outra muitas vezes são necessárias, pois nem todos os profissionais se adaptam às novas funções ou correspondem às necessidades da empresa, e que o quadro de funcionários depende das condições do mercado... De qualquer maneira, esta é a pior parte do nosso trabalho.

Entre as áreas de Exatas e Humanas sempre acreditei ter mais vocação para Humanas... Durante toda a minha vida de estudante eu sempre fugi da Matemática como o diabo foge da cruz, no entanto, com o tempo, já na vida profissional, percebi que não adiantou nada fugir, pois ela sempre esteve presente no meu dia a dia. E confesso que, muitas vezes, gostei dela sem perceber... Hoje eu vejo a falta que me faz não ter estudado as suas regras e equações, pelo menos para prestar concursos públicos... 

No meu trabalho sou observadora e detalhista, gosto de tudo certo e adoro desafios de achar o erro, de fazer bater cada centavo ou cada segundo, trabalho com salários, folha de pagamento e controle de ponto, por isso não posso errar! 

Adoro Excel, porque é uma ferramenta que facilita a minha vida, devido ao meu pouco conhecimento de matemática! 

Sou boa com planejamento financeiro, que foi a única coisa que estudei (matemática financeira, juros, descontos e estatísticas) sei bem o quanto eu ganho, quanto devo e quanto posso gastar. Não sou consumista e nunca gastei mais do que posso. 

Tenho mania de números, horas, idade, quilometragem. Sempre sei a distância e o tempo utilizado nas minhas corridas e viagens, gosto de saber a distância que me separa dos lugares que gosto, frequento ou pretendo ir. Gosto de precisão, odeio quadro torto na parede, diagramação mal feita, coisas sem equilíbrio. Analisando tudo isso percebo que, talvez, eu tivesse me dado bem na área de Exatas...

Hoje entendo o outro lado das coisas, da profissão, dos empresários, dos funcionários, o outro lado dos nossos sonhos e das nossas expectativas, entendo que, muitas vezes, a realidade é bem diferente de tudo o que a gente espera e acredita. E que muitas vezes nos faltarão recursos para resolver todas as dificuldades humanas, mas que essa escassez não pode nos impedir de seguir em frente, procurar novas soluções, aproveitar as oportunidades, descobrir o novo, aceitar as mudanças e nos adaptarmos a elas.

Precisamos conhecer o outro lado para ter uma visão crítica e justa das coisas, para termos argumentos e defender as nossas opiniões, para saber a diferença entre o certo e o errado, entre o que queremos ou não para nossa vida, para valorizar o que temos e quem somos, para seguir o nosso caminho com fé e esperança de dias melhores.





Detalhe:
Este texto foi escrito em 20/12/2015, mas ficou esquecido no meu computador até hoje... Como o assunto continua atual, resolvi publicá-lo hoje,dia 25/03/2018. Espero que gostem ou sirva para reflexão.