domingo, 4 de outubro de 2015

Cartas de Amor

Sempre quis trocar cartas de amor, mas as poucas vezes que ousei mandá-las não tive muito sucesso... Na primeira vez, nunca recebi respostas. Anos mais tarde fiquei sabendo que ele nem percebeu que eram cartas de amor. Acho que eu não soube me expressar muito bem.  Na segunda, recebi apenas uma foto com dedicatória atrás, não era bem isso que eu esperava, mas mesmo assim representou muito para mim. Naquele tempo eu nem imaginava que um dia estaria aqui, sentada em frente a um computador, escrevendo sobre este assunto em um blog.  Aliás, tudo isso foi bem antes da internet chegar ao Brasil!

Bons tempos aqueles, quando os Correios ainda eram o principal meio de trocar correspondências. Demorava, mas funcionava.

As pessoas ficavam felizes quando no meio das contas chegava um envelope escrito à mão e com um selo homenageando algum fato histórico. Era sempre uma surpresa agradável receber uma carta, principalmente antes de rasgar o envelope e ler o seu conteúdo, que, além de chegar desatualizado, nem sempre trazia boas notícias... Mas, mesmo assim, era costume guardá-las. Todo mundo tinha uma caixa de sapato ou uma gaveta no criado mudo para arquivar as cartas.

Escrever uma carta era um verdadeiro ritual, principalmente se fosse uma carta de amor. A escolha do papel, a cor do envelope, escrever o rascunho, revisar o texto, escolher a caneta que facilitasse a escrita, passar a limpo, caprichar na letra e até a escolha de um perfume para borrifar na carta para que ela chegasse cheirosa ao destinatário. Depois, ir à agência dos Correios, encaminhar a carta e esperar... Esperar que ela chegasse dias depois ao seu destino e torcer para que ela fosse respondida. E novamente esperar até o carteiro apertar a campainha e finalmente receber a resposta. Todo este processo fortalecia a relação e potencializava o sentimento.

Com o passar dos anos e a chegada da internet muita coisa mudou. As redes sociais facilitaram a reaproximação de muitas pessoas e a continuidade de casos perdidos no passado. Assim, tive a oportunidade de recomeçar uma daquelas histórias que contei no início do post. Mas, como ele não costumava responder e-mails percebi que o problema não era bem o meio de comunicação...

Hoje em dia tudo é mais fácil, basta deixar um recado no Facebook ou conversar pelo Whatsapp, tudo muito simples e rápido. Ninguém precisa esperar muito tempo para saber a resposta. E quando ela não chega sabemos que foi proposital, pois temos a confirmação de que foi lida. Não há mais desculpas da demora devido às greves dos Correios, porque a carta foi extraviada, o cachorro rasgou as correspondências ou porque a chuva molhou a casinha de cartas... Hoje sabemos de tudo, ninguém mais se engana, só quando quer fingir que não entendeu, para doer menos. As caixas postais e os históricos das conversas normalmente são apagados para liberar espaço na memória, seja ela do computador, do celular ou do nosso cérebro mesmo.

A tecnologia facilitou tudo e tirou o véu das nossas caras, tornando tudo efêmero.

A comunicação ficou mais fácil. Mas, infelizmente, por alguma razão que eu desconheço, essa facilidade nem sempre  é sinônimo de eficiência, pois muitas vezes não  é o suficiente para fortalecer as relações, pelo menos as amorosas. Acho que a rapidez das informações interferiram na duração dos relacionamentos. Afinal, tudo que vem fácil vai fácil, não é assim que diz o ditado? Acredito que o mesmo aconteceu com as correspondências... Como as pessoas costumam ficar 24h online sabemos que a qualquer hora podemos chamá-las que elas responderão logo em seguida. Porém, muitas vezes, na correria do dia a dia, acabamos por adiar este chamado, deixando para depois aquilo que deveríamos dizer no momento em que estamos sentindo.

O que eu não entendo é por que o homem estuda e trabalha tanto para facilitar a nossa vida e aprimorar os meios de comunicação? Se, o que me parece é que, quanto maior é o avanço tecnológico maiores se tornam as distâncias entre as pessoas, mais sutis e frias se tornam as relações e menos tempo temos para dedicar aqueles que amamos...


O relacionamento afetivo precisa de atenção, de carinho, de tempo e dedicação. Precisa também de fatos que marquem os momentos e deixem histórias para relembrar e contar. E não é deletando arquivos que deixaremos registros das nossas experiências. Para isso, mesmo parecendo piegas e fora de moda, nada melhor que escrever bilhetinhos, cartões e cartas de amor. O romantismo não pode sair de moda!