domingo, 25 de agosto de 2013

Consciência pesada ou trânquila

Acabei de ler hoje o livro Holocausto Brasileiro, escrito pela premiada jornalista Daniela Arbex, que nos conta a tragédia ocorrida no Manicômio de Barbacena, leitura que recomendo a todos os interessados em conhecer um pouco mais da história do nosso país, mesmo que preferíssemos que este fato não fizesse parte dela. 

Apesar da sensação de vergonha transferida, quando sentimos vergonha de algo que diretamente não foi feito por nós, mas por outra pessoa, na maioria das vezes, sentimos envergonha porque presenciamos sem nada ter feito para impedir que acontecesse ou fazemos para evitar que tragédias como essa voltem a se repetir.

Lendo os relatos de ex-funcionários daquele hospital psiquiátrico e constatando o arrependimento de todos que estiveram presentes à época, mas que pouco ou nada fizeram para acabar com aquela tragédia, eu me pergunto até quando continuaremos omissos e coniventes com os abusos de poder, tanto público quanto privado, para continuar garantindo nossos empregos, o nosso sustento e o de nossas famílias, permitindo que outras pessoas, menos favorecidas, paguem por essas atrocidades no lugar desses monstros que, em prol dos seus próprios interesses, permitem que situações como esta aconteçam, como um hospital psiquiátrico ter se transformado em um verdadeiro campo de concentração, onde crianças, idosos e adultos foram tratados como animais irracionais, sem identidade própria, vontades, necessidades mínimas e dignidade humana?

Não estou aqui apenas para discutir o que foi feito ou o que vem sendo feito em relação à saúde mental no Brasil, mas para provocar uma reflexão sobre o que estamos fazendo, ou deixando de fazer, para evitar o nosso próprio arrependimento, no futuro, perante as tragédias que acontecem diariamente a nossa volta sem que nada façamos para impedir...

Os abusos de poder e a corrupção acontecem até hoje porque, de alguma maneira, permitimos que aconteçam, porque achamos que nada podemos fazer para impedir um gigante contra o qual não temos armas para enfrentar... Mas isso não é verdade, a própria história nos mostra que se tivermos força e coragem para contrariar o sistema, como alguns médicos, funcionários, jornalistas e fotógrafos tiveram coragem de fazer no caso de Barbacena, aos poucos, a situação pode começar a mudar! Pode ser que um homem não seja capaz de vencer uma guerra, mas se cada um fizer a sua parte, a maioria pode conquistar a vitória e mudar a história deste país.

Precisamos pensar coletivamente, porque tudo muda a todo instante... Hoje somos expectadores das tragédias que assistimos nos noticiários, amanhã poderemos ser as próximas vítimas...

Tudo o que acontece no mundo é de nosso interesse, pois tudo nos atinge direta ou indiretamente. Precisamos parar de olhar para as tragédias como se elas não nos pertencessem... Estamos todos ligados!

Nada levaremos deste mundo, a não ser a nossa consciência tranquila por termos feito o melhor, ou pelo menos tentado, daquilo que estava ao nosso alcance! Se sozinhos não podemos mudar o mundo, podemos pelo menos nos recusar a fazer aquilo que consideramos errado e denunciar os abusos de poder.

Nossa existência não pode passar em vão... Precisamos construir uma sociedade mais justa e deixar valores mais sólidos para os que ainda virão! Chegar ao fim da vida com a consciência pesada ou tranquila só depende das nossas escolhas e das nossas atitudes hoje.