Morei na mesma casa desde os 6 anos de idade até completar 40, antes disso, meus pais não tinham casa própria, então morávamos de aluguel, neste período morei em três casas.
A minha primeira moradia foi um sobradinho da Vila I.A.P.I., uma antiga vila de Taubaté, próxima ao Sítio do Picapau Amarelo, onde meus pais moravam antes mesmo de se conhecerem. Meu pai, desde a infância, onde cresceu e conheceu seus melhores amigos. Minha mãe, desde mocinha, quando veio de Resende para trabalhar em Taubaté. Muitos anos depois eles se conheceram, se casaram e optaram por continuar morando no mesmo bairro. Morei lá até os 3 anos de idade, onde aprendi a andar, a falar e a interagir com o mundo. Apesar de ter saído de lá muito pequena, voltei muitas vezes para visitar os amigos dos meus pais, por isso, não sei definir se as lembranças que tenho de lá são da minha própria memória, ou se foram reforçadas pelas fotos, pelas histórias ou pelos retornos com o passar dos anos...
Depois, aos 4 anos de idade, fomos morar no Jair Freire, um bairro simples, ao lado da Estrada Velha Taubaté-Tremembé. Lá morei apenas 1 ano e as lembranças mais marcantes que tenho desta fase são dos vizinhos da frente, a família do Dr, Raymundo, que se tornou nosso dentista por muitos anos... A filha caçula dele estudava com a minha irmã e se tornou nossa amiga, e a esposa dele, muito amiga da minha mãe. Mesmo mudando de lá, mantivemos relação com esta família por muito tempo, mas hoje, infelizmente, perdemos contato... Desta época, lembro-me muito, também, da Margarida, uma lebre branca, que tive de estimação, e que se mudou com a gente para a outra casa.
A terceira residência foi na Vila MEP, um conjunto de casas da Mecânica Pesada, fábrica onde meu pai trabalhou por muitos anos (atual Alstom), e que oferecia essas casas aos moradores por um custo muito baixo. Moramos nesta casa também por 1 ano, mas de lá tenho mais recordações... Lembro-me que havia uma grande árvore em frente a minha casa, onde viviam as cigarras! E eu adorava o canto delas! Até hoje, ao ouvir uma cigarra, eu me lembro daquela época... Lembro-me também que tinha muita libélula, de várias cores, umas de rabinhos finos, que eu pegava na mão, e outras de rabinhos mais gordinhos, que eu tinha medo... E que costumávamos brincar de caçá-las... Era divertido sair correndo atrás delas... Hoje me pergunto o que aconteceu com as libélulas, pois já não as vejo mais... Pelo menos naquela quantidade... Foi lá também, na Vila MEP, que comecei a estudar, aos 5 anos de idade frequentava o jardim da infância, que ficava atrás da minha casa. Lembro que a minha irmã me passava o lanche pela cerca na hora do recreio... Isso, quando a professora não inventava de levar as crianças ao clube, que ficava ao final da Rua Jacarandá, a rua da minha casa. Desta vila também levamos bons amigos, alguns até os dias de hoje!
No final do ano de 1977, meu pai recebeu uma proposta para mudar de emprego, para uma oportunidade muito melhor! Ele continuaria trabalhando com o mesmo chefe, mas em outra empresa. Então ele foi dispensado da Mecânica e com a indenização recebida, de 10 anos de empresa, comprou a nossa primeira casa própria, uma casa simples, geminada, com quintal de terra e uma edícula nos fundos, em um bairro sem muita estrutura, com ruas sem asfalto, próximo à Dutra, mas em uma região da cidade que começava a crescer... E foi lá, no Jardim Ana Emília, que eu cresci! E é desta casa que eu tenho as melhores lembranças da minha vida... E que eu chamo de “a casa da minha infância”.
Quando mudamos para lá eu estava completando 6 anos e fui matriculada na Escola Luiz Augusto, onde estudei até me formar, no que chamamos hoje de Ensino Fundamental, pois lá não havia ensino médio, ou eu não teria mudado de escola. Nesta casa fiz novas amizades e conheci minhas melhores amigas, que me acompanham até hoje. Nesta casa eu brincava de boneca, brincava na rua de esconde-esconde, de amarelinha, aprendi a andar de bicicleta, fiz primeira comunhão, dei meu primeiro beijo, me apaixonei diversas vezes, me formei no ensino técnico, na faculdade, comecei a trabalhar, a viajar, mudei para São Paulo, voltei, fiz pós-graduação, vivi momentos felizes, outros tristes, sorri e chorei, enfim, nesta casa eu cresci e vivi a maior parte da minha vida!
Paralelo ao meu crescimento muitas mudanças ocorreram, na própria casa, que foi reformada diversas vezes, e na última delas, chegou ao que sempre desejamos, tornando-se mais espaçosa, mais bonita e mais confortável! Ao longo desses anos o bairro também cresceu muito, ganhou um Terminal Rodoviário, um Horto Florestal, um Corpo de Bombeiros, Museus, as ruas foram asfaltadas, o comércio foi ampliado, incluindo um hipermercado, algumas agências bancárias foram instaladas, e até uma FATEC começará a funcionar este ano, enfim, a região toda se desenvolveu.
Mas como tudo muda nesta vida, chegou um dia em que nós também mudamos... Deixamos a casa tão querida e mudamos para um apartamento, em outra região da cidade, onde começaremos uma nova história!
A nossa casa continua lá, e, graças a Deus, continua sendo nossa! Espero que os nossos futuros inquilinos sejam tão felizes naquela casa como sempre fomos! E quem sabe um dia, daqui a alguns anos, eu ainda volte a morar lá? O futuro a Deus pertence... Mas o passado faz parte da nossa história! E toda história merece ser registrada, relembrada e contada! Por este motivo, fiz questão de contar a vocês a história da casa da minha infância, pois não importa para onde vamos, só não podemos esquecer as nossas raízes!